Quem sou eu

Minha foto
Angelo Alves- Graduado em Ed.Física UCSal; Pós-Graduado em Fisiologia do Exercício; Times que Trabalhei: Vitoria BA, Miami FC, FC Moscow, Krilia Sovetov (Russia ).Estágio CSKA da Russia.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Modelo de Jogo Como (NORTEADOR) na Formação de Atleta



O processo e o emergir de talentos se estabelece a partir da criação de estratégias acentuadas com base em sistemas auto-organizados e longevos, ou seja, trata-se de um desenvolvimento a longo prazo que pressupõem no investimento da inteligência, criatividade, autonomia, educação e variabilidade (BENTO, 2004; FRADE, 1979).

Os projetos de formação são de suma importância para a criação de uma cultura futebolística, com princípios e regras coerentes e bem definidas, que tenham por base um modelo de jogo que, por sua vez, orientará a concepção de um modelo de treino, um modelo de jogador e até mesmo um modelo de treinador (LEAL e QUINTA 2001).

Na concepção de Garganta (2007), o futebol só faz sentindo entendido dentro de uma proposta tática, com o treino visando a implementação de uma “cultura para jogar”. Para o autor, a forma de jogar é construída e o treino consiste em modelar os comportamentos e atitudes de jogadores/equipes, através de um projeto orientado para o conceito de jogo/competição. Carvalhal (2001) confirma esse pressuposto, afirmando que o modelo de jogo deve ser o “cerne” de todo processo de treino.

Entende-se por modelo de jogo um corpo de idéias, relacionados como uma determinada forma de jogar, constituindo assim como um “perfil” de jogo da equipe (GRAÇA e OLIVEIRA, 1994). O mesmo consiste no mapeamento de um conjunto de referências necessárias para balizar a organização dos processos de organização ofensiva e defensiva e transições ofensivas e defensivas, respeitando os princípios definidos (CASTELO, 1994; MORBAERTS 1991).

Neste seguimento, Oliveira (2004) refere que o modelo é essencial para arquitetar e desenvolver um processo coerente e específico preocupado em criar um jogar. Desta forma, Leandro (2003) menciona também que cada concepção de jogo produz um modelo de jogo próprio, uma vez que as idéias inerentes a uma determinada cultura de jogo se diferenciam. Castelo (1996) refere que cada modelo de jogo compreende a sua evolução dinâmica e criativa ao longo do seu processo de desenvolvimento. Portanto, Frade (2006) afirma que o modelo de jogo é a maneira como uma equipe irá jogar, é a cultura de clube, é a relação com a FORMAÇÃO... enfim é TUDO.

Assim, sabe-se que, quando um treinador chega a um clube, além de analisar sua condição física-estrutural-planejamental (materiais, campos, recursos financeiros, competições), observa seus jogadores e pensa na melhor forma de pô-los a jogar (sua concepção de jogo) em cima da cultura de futebol do clube. Essa é a lógica. Certo ou errado? Errado. Poucos dos nossos clubes e treinadores respeitam suas questões históricas e culturais, e a cada semestre modificam sua forma de jogar, não adquirindo uma cultura de clube necessária para criar uma identidade futebolística. Essa constatação é um dos vários “cancros” do nosso futebol e acaba refletindo nas categorias de base.

Oliveira (2008) confirma essa idéia afirmando que, quando um treinador é contrato por um determinado clube, trás consigo sua concepção de jogo, porém, terá que se adaptar a cultura de clube que poderá ter um Modelo de Jogo padronizado a todas as categorias. Assim, o treinador terá que adaptar suas idéias de jogo em cima desse modelo preconizado. Na concepção de Pinto (1996), é a existência de uma cultura de jogo comum a todos os jogadores que os distingue de outros, sendo essa mesma cultura de jogo a responsável pela diferenciação de várias equipes, apresentando-se como uma “impressão digital” de cada equipe.

Nesse entendimento, parece que as idéias do treinador não são importantes para a idealização do modelo?

Evidente que são, mas para serem válidas e relevantes, as mesmas devem ser contextualizados com a cultura de jogo, modelo de treino e o modelo de jogadores pertencentes ao clube. Frade (2004) deixa explicito que o treinador tem uma ação decisiva em todo processo evolutivo da equipe, já que aplica um conjunto de conhecimentos prévios (seu conhecimento sobre o jogo) e que se informou e vai adquirindo diariamente sobre o clube que gere (conhecimento sobre a cultura de clube).

Assim, o treinador, no momento de construção do modelo de jogo da sua equipe, além de considerar as suas idéias de jogo, deve respeitar as questões culturais do clube e as sócio-culturais dos jogadores (PINTO e GARGANTA, 2006).

Portanto, o treinador não está sozinho; por mais claro e evidente seja aquilo que deseja (sua concepção de jogo), o mesmo lidará com fatores importantes que afetarão no desenvolvimento do modelo de jogo.

Na concepção de Mourinho (2001), para elaboração de um modelo de jogo é importante conhecer:

O• clube em questão; características históricas, sociais e culturais do clube;

A• equipe e o respectivo nível de jogo;

O• nível e as características individuais dos jogadores;

O• calendário competitivo;

Os• objetivos a atingir;

• Organização funcional ou articulação princípios, sub-princípios e sub-sub-princípios estabelecidos nos momentos do jogo;

• Organização estrutural ou sistemas táticos;

• Realidade estrutural e financeira.

Também, como se refere Oliveira (2008 cit. por Lemos 2008), deve-se considerar outros aspectos relevantes:

• Modelo de Clube (estilo de jogo marcante); se é compatível com minhas futuras idéias;

• Número de Jogadores no plantel;

• Número de treinadores ou integrantes da comissão técnica;

• Número de treinos semanais.

Desta forma, a construção de um modelo de jogo deverá evidenciar uma construção fractal única, aberta as contingências das interações entre os diferentes agentes (aspectos históricos, torcedores, treinadores, jogadores...) e ao respectivo envolvimento cultural que esse jogar emergirá (OLIVEIRA, 2004).

Torna-se ainda mais claro após as exposições acima, que, para que tal seja exeqüível, deve-se ter em conta um fio condutor, isto é, um padrão cultural (modelo de clube), um modelo de treino e modelo de jogador, cujas articulações sejam devidamente efetuadas entre as categorias de base, inspirando-se no plantel profissional, nas idéias de jogo deste (MACIEL, 2008).

Dessa maneira, todas as equipes devem procurar padronizar seu futebol, construindo um modelo de jogo a ser utilizado em todas as categorias. Assim, o processo de formação ficará completo e o jogador, ao chegar à equipe profissional, estará preparado para desempenhar seu papel (em sua determinada posição) de uma forma satisfatória, já que sua experiência na base lhe dará condições para vivenciar padrões comportamentais similares aos do futuro.

Mas deve-se ter em mente as caracterizações que cada faixa-etária exige. O mesmo modelo de jogo será utilizado em todas as categorias, mas os exercícios, as sessões semanais, o tempo das sessões, as exigências pelo resultado e pelo cumprimento dos padrões pé-determinado táticos-técnicos-psicologicos-físicos, deverão diferenciar-se, já que não se pode confundir o futebol-base com o futebol-profissional. Neste contexto, o Modelo de Jogo não pode ser rígido, devendo ser variável dependendo do contexto em que se insere (CARDOSO, 2006).

Para Silva (2008), o processo de treino deve pautar-se por princípios que modelem o jogo no sentido de uma concretização equilibradora entre o ser que joga e o jogo que é jogado. Ou seja, por um lado a modelação do jogo deve considerar a criança, o jovem, sua singularidade, e, por outro lado, deve considerar o jogo com inteireza inquebrantável.

Nesse contexto, Garganta (2002) coloca uma seqüência de progressão do modelo de jogo, dividida em três fases básicas; é importante saber isso para entender o processo de aprendizagem/ensino da equipe e dos jogadores. Não há uma velocidade específica de ensino, pois cada equipe tem um tipo de resposta aos estímulos propostos.


MODELO RUDIMENTAR

- Jogo estático, não orientado, jogadores centrados sobre a bola, excesso de verbalização.

Os• jogadores perseguem indiscriminadamente a bola, aglutinando-se sobre ela;
• Dificuldades na relação com a bola (Domínio, Controle, Proteção, Passe... etc.);
• Utilização sistemática da visão para olhar a bola, impossibilitando a "leitura" do jogo;
• Imobilismo dos jogadores sem bola, excesso de verbalização;
A circulação da bola não é• Sucessão de ações isoladas e explosivas sobre a bola.•voluntária;


MODELO INTERMEDIÁRIO

- Jogo estático, orientado, jogadores centrados sobre o passe.

Ocupação mais racional do• terreno de jogo, embora pouco eficaz, pois é pouco móvel, estático;
Existência• de blocos de jogadores estáticos que trocam passes entre si;
A visão (Central e• Periférica) vai sendo aos poucos "libertada" para ler o jogo;
Todo o encadeamento de ações• necessita de uma paragem Bola-Jogador;
Pouca agressividade• ofensiva.

MODELO AVANÇADO

- Jogo dinâmico, orientado, jogadores centrados sobre a finalização - Gol

Jogadores organizados em• funções de finalidades diferentes;
Agressividade ofensiva;•
O portador• da bola joga de cabeça levantada para "ler" o jogo;
Alternância do jogo em• largura e profundidade;
As ações são organizadas em• função dos alvos – goleiras;
As ações são encadeadas;•
• Privilegia-se a Comunicação Motora, em detrimento da Gestual e Verbal.

Então, é importante respeitar o processo de progressão qualitativo do modelo de jogo; isso não tem tempo certo, depende da categoria, da maturação dos atletas, da especificidade do treino. Portanto, não é de um dia para o outro que os atletas estarão prontos para integrarem o grupo profissional. O processo só ficará completo se a progressão lógica e o roteiro hierárquico das fases de aprendizado ao modelo de jogo forem vivenciados inteiramente pelos atletas.

Desta forma, podemos observar que o treinar deve ser perspectivado através de níveis de complexidade diferentes e crescentes, determinado por um padrão (modelo de jogo) que evoluirá qualitativamente, tornando-se um hábito não estanque e mecânico, gerador de automatismos libertadores.


Corroborando essa idéia, Faria (1999) afirma que esse hábito de jogar de determinada maneira só poderá acontecer se os princípios do modelo de jogo estiverem claramente definidos, forem trabalhados de forma sistemática e evidenciarem uma idéia coletiva de jogo. Poucos clubes no mundo encontram-se com uma cultura de formação orientada por um modelo de jogo, devidamente organizada e operacionalizada. Um exemplo clássico é o Barcelona, onde certamente o grande sucesso nas últimas décadas deve-se a sua cultura de formação.

Evidente que o Barcelona não é parâmetro para ninguém aqui em nosso país, mas pode ser espelho para clubes que estão buscando uma mudança de mentalidade. Assim, sugere-se nesta estruturação do departamento de base, a unificação de um modelo de jogo e a contratação de profissionais que se identifiquem com esta proposta.

Esses preceitos acima citados, certamente proporcionarão uma formação qualificada e ajudarão a romper a crise tático-técnica-psicologia, (a dimensão física não foi citada, em virtude da hiper-valorização da mesma nos departamentos de base) e econômica pelo qual os clubes estão passando. Assim, os clubes terão jogadores qualificados, não apenas para serem negociados, mas para jogarem no clube, sem necessitar a cada ano contratar jogadores que não se identificam com o clube e que contribuem demasiadamente para os gastos.

Por fim, o modelo de jogo deve ser entendido com um sistema auto-organizado e autopoiético, algo em aberto e dinâmico, contemplando mudança, um aspecto determinante para emergi-lo da criatividade dentro do sistema, que, tendo subjacente um determinado padrão, permite ao jogar e aos potenciais talentos, evoluírem para níveis de complexidade mais elevados, sem perda de identidade (MACIEL, 2008).

Assim, fica latente esse preceito de começar a utilizar o modelo de jogo como referência para formação de atletas aqui no Brasil. Mas deve-se perceber a interdependência dos conceitos de modelo de clube, modelo de treinamento e modelo de jogador, dentre outras variáveis, para chegar ao resultado final: modelo de jogo.

Os paradigmas estão em constante mutação; evidente que seus conceitos levarão algum tempo para serem aceitos, considerados normais e válidos, principalmente nesse mundo “monopolizado” do futebol. Friedrich Nietzsche retrata muito bem esse panorama ao afirmar que “não há fatos eternos, como não há verdades absolutas”.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O Modelo de Jogo


O conceito de modelo de jogo (MJ) aparece nesse momento muito pertinente nas literaturas buscadas pelos profissionais que estão sempre à procura de evolução sobre questões ligadas aos esportes coletivos e almejam tornar cada vez mais consistente sua filosofia de trabalho. Enquanto no Brasil pouquíssimo material foi produzido sobre o tema, na Europa ele é alvo de discussões há muito tempo, como podemos observar nesse trecho escrito por Teodurescu em 1984, em que o autor considera que o modelo de jogo é uma referência, construída a partir de outras referências de ordem de rendimento superior, que postulam um conjunto de ações individuais e coletivas dos jogadores e da equipe, integradas com o espírito físico e psíquico característico do jogo. Na década de 90, o autor Júlio Garganta escreveu bastante sobre o assunto, devido à relação que o mesmo tem com sua proposta metodológica de ensino para os jogos desportivos coletivos. Recentemente, José Mourinho (2006), afirmou que ter um modelo de jogo definido é o mais importante para uma equipe de futebol, e tal modelo é um conjunto de princípios que dão organização a sua equipe por isso deve ter relevância especial desde o primeiro dia de trabalho. O treinador português e o autor romeno Teodurescu, em publicações com intervalo maior do que vinte anos referem-se ao conceito de MJ com muita proximidade, apesar de utilizarem-se de algumas palavras distintas para descrevê-lo.

O modelo de jogo é o núcleo de toda a periodização tática, sem a definição do modelo torna-se descontextualizado o trabalho sob a perspectiva da periodização tática. O foco nesse novo cenário está na forma de jogar que será construída ao longo da temporada, visando uma regularidade competitiva e evolução constante nos comportamentos da dominante tática para que se atinja o “pico do modelo de jogo” como objetivo do processo. A periodização deve englobar a especificidade do MJ adotado em aspectos cognitivos, físicos, táticos, técnicos e psicológicos, além dos princípios e sub-princípios de jogo que serão aplicados pela equipe nas organizações ofensiva, defensiva e nas transições defesa-ataque e ataque-defesa. Portanto, modelo de jogo não é somente a tática usada pelo treinador, mas sim um conjunto de ações, pensamentos e princípios seguidos pela equipe. Ao elaborar os treinos, deve-se levar em conta o MJ previamente definido, ou seja, o processo de treinamento deve englobar exercícios que seguem o MJ escolhido pelo treinador. E que fique claro que todas as equipes possuem um MJ, independente do método de treino aplicado e do conhecimento do treinador sobre o tema, o que poderá variar é o quão elaborado (ou não) é o MJ que determinada equipe apresenta no campo. Colocar onze jogadores no campo defensivo e “dar chutões” ou jogar realizando uma zona pressionante são dois MJ com um grau de complexidade bem distinto, desde a forma como se operacionalizar um treinamento para construí-los, passando pela assimilação dos atletas, até sua aplicação no jogo.
O treinador, na fase inicial do trabalho deve definir o modelo de jogo da equipe junto com sua comissão técnica, levando em conta sua idéia de jogo, a característica dos jogadores, os princípios de jogo, a organização funcional e a estrutura do clube. O modelo de jogo deve ter objetivos bem definidos e bem claros para todos, para que cheguem a atingir tais metas. Porém, devem saber que esse modelo de jogo pode sofrer ajustes, para que haja um aperfeiçoamento gradativo

domingo, 20 de novembro de 2011

A Ideia do Treinador

O mais importante numa equipe de futebol è ter um modelo de jogo, um conjunto de princípios que dêem organização a equipe.Por isso que minha atenção é desde o primeiro dia.

Gosto que minha equipe tenha uma posse de bola, que o faça circular, que tenha muito bom jogo posicional, e que os jogadores saibam claramente como se posicionarem. Aliado a isso, defender bem e ter qualidade individual( o que marca determinados momentos do jogo ), também são factores cruciais.Um bom posicionamento defensivo enquanto equipe, formando um bloco compacto que posssa jogar com linhas muito juntas, é outra característica da minha equipe. ( JOSÈ MOURINHO ).

O Modelo de Jogo

Definindo modelo de jogo: Modelo de jogo pode ser considerado como conjunto de comportamentos idealizados por nós que desejamos ver nossa equipe realizar durante o jogo, dentro de todas as dimensões que o futebol apresenta, sendo elas tática, técnica, psicológica, física dentre outras que também podem ser inseridas nestas, ou podem ser valorizadas tanto quanto estas, a exemplo das dimensões afetiva, e social.


"Entendendo Modelo de Jogo como uma ideia / conjectura de jogo constituída por princípios, sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios..., representativos dos diferentes momentos / fases do jogo, que se articulam entre si, manifestando uma organização funcional própria, ou seja, uma identidade. Esse Modelo, como Modelo que é, assume-se sempre como uma conjectura e está permanentemente aberto aos acrescentos individuais e colectivos, por isso, em contínua construção, nunca é, nem será, um dado adquirido. O Modelo final é sempre inatingível, porque está sempre em reconstrução, em constante evolução. "


Conclusão.


É importante definir que, todo e qualquer treinador tem um modelo de jogo, mesmo que não saiba que tenha, pois qualquer comportamento apresentado por uma equipe leva a um modelo, existem modelos mais e menos evoluídos, dentro de uma filosofia de qualidade, mas não sei se pode-se definir uma escala, o mais evoluído de hoje, pode não ser o de amanhã, hoje posso citar como modelo de jogo evoluidíssimo, o do FC Barcelona.

POSSE TOTAL DO BARCELONA.


Os holandeses de 1974 assombraram o mundo com o futebol total do técnico Rínus Michels, um esquema de jogo revolucionário, com jogadores sem posição fixa, circulando pelo campo, fazendo pressão e utilizando a linha de impedimento como arma defensiva. O chamado carrossel holandes foi uma ideia inteligente, nascida num pais de pouco mais de 15 milhões de habitantes, sem grande tradição futebolística. Pois agora, ao que parece, estamos presenciando outra revolução, protagonizada pelo Barcelona do técnico Joseph Guardiola e que pode ser resumida também em duas palavras: Posse Total.

Essa característica ficou evidenciada no último jogo do time catalão pela Liga dos Campeões, contra o Arsenal. Foi o colunista do jornal Lance, André Kfouri, que melhor registrou o fenômeno num artigo intitulado Não Chutarás. No texto ele desdobra com dados estatísticos um registro que já havia chamado a atenção de todos que viram o jogo - o tempo de posse de bola do Barcelona.

Contra o Arsenal, os companheiros de Messi estiveram com a bola nos pés 68% do tempo. Isso que o Arsenal lutou muito para retoma-la. No jogo de ida em Londres, o Barça já havia feito algo semelhante, ficando com a bola durante 61% do tempo, mesmo na casa do adversário. E contra o Rubin Kazan, na fase de grupos, os catalães estiveram com a bola 74% do tempo - uma coisa extraordinária.

E o dado assombroso não é exatamente a posse de bola, mas a sua consequência: O Arsenal não chutou uma só vez no gol do Barcelona. Não chutou mesmo, nem da direção do gol, nem por cima, nem pelos lados. Simplesmente não teve oportunidade de ataque.

Na sua pesquisa, André Kfouri constatou ainda que no segundo jogo das semi-finais da Liga dos Campeões do ano passado, a Inter de Milão deu apenas um chute no gol do Barcelona. E era a Inter, com todo o seu poderio.
O Arsenal marcou um gol contra o Barcelona, mas foi contra.

VOLANTES

O curioso desta equipe do Barcelona que se apossa da bola e quase não deixa mais o adversário tocar nela é que joga com apenas um volante. Significa que um bom esquema defensivo não precisa ter três ou quatro volantes, como muita gente ainda defende por aqui. O Barcelona tem três atacantes (Messi, Pedro e Villa) e três jogadores de meio campo, mas Iniesta e Xavi não são marcadores títpicos. Eles apenas são exímios em fechar espaços e em tirar a bola do adversário, sem a necessidade de trombar. E quando o Barcelona retoma a bola, troca passes, avança na direção do gol adversário com paciência e objetividade.

ALGUMAS CONCLUSÕES

- Não são necessários muitos defensores para defender bem, porém o ideal é ter muitos jogadores defendendo, por questões básicas de superioridade numérica na zona da bola.

- Não é necessário estar sem a bola para se defender, será que a posse e circulação da bola não é também um mecanismo defensivo?

- Não é necessário ter jogadores exclusivamente defensivos, toscos, ou sem qualidade técnica para compensar jogadores menores com qualidade, é necesário sim ter uma linguagem coletiva, com liberdade para o aparecimento das individualidades.

O Coletivo

Existe aqui no Brasil uma tendência ao "coletivo", que é para muitos o mais especifico dos treinos, pois é o que retrata melhor o jogo. De fato, em algumas metodologias isso é verdade, como por exemplo, na metodologia convencional.
Em treinos integrados o coletivo deixa de ser tão "especifico" quanto é para o treino convencional, pois neste existem treinos em espaço reduzido que promovem junto com a especificidade técnica e tática (quando solicitada no exercício, porém normalmente esta dimensão, nesta metodologia e neste tipo de exercício não é levada em conta, sendo a separação das equipes normalmente feita de forma grupal, sem preocupações setoriais ou intersetoriais).

Algumas características do coletivo convencional:

- 11 contra 11;- Tempos longos retratando o tempo real de jogo (2x35, 2x40, 2x45 - 1x45, 1x50, 1x60 minutos);
- Regra normal de jogo, tanto em bola rolando quanto em bola parada;
- Espaço de campo total;
- Número de toques na bola liberado;
- Titulares x Reservas;

Estes são alguns pontos mais valorizados nos coletivos clássicos. Estes traços são de fato o retrato do "jogo oficial", pois o coletivo tem essa idéia mesmo, jogar como se irá jogar no jogo, e os jogadores pelo menos nas culturas que tive contato têm uma grande necessidade de realizar estes coletivos semanalmente. É como se fosse um teste semanal para eles, uma avaliação para sentir o seu modo atual de jogo, seu rendimento, e para o treinador o coletivo convencional passa a ser um tipo de feedback da equipe na semana.

O problema no caso do coletivo abordado acima esta relacionado a algumas consequências que surgem neste tipo de treino, e estão situados nas seguintes variáveis:

- Propensão a algo;
- Acumulação de fadiga de jogo;
- Baixa qualidade;
- Baixa Intensidade;

PROPENSÃO A ALGO:

Metodologicamente o princípio das propensões nos possibilita contextualizar o exercício para solicitar o aparecimento de determinadas coisas mais do que outras, ou seja, estar mais propício a algo. O jogo, em geral é de fato uma forma de avaliação qualitativa e até quantitativa sobre o aparecimento destas coisas, que através da propensão levamos aos treinos e treinamos.

Portanto existe uma lógica em fazer coletivos para tentar perceber se esta ou não acontecendo estes comportamentos idealizados pelo treinador. O problema é que o coletivo tradicional pelo seu tempo de duração, pelos seus confrontos em níveis muito desiguais, e pela contextualização não idêntica à competição (pois o lado emocional, a torcida, o stress não estão tão presentes) acabam sendo um pouco "enganadores".

Enganam, pois dentro da exigência baseada nestes elementos o jogador consegue sucesso sem a necessidade de na maioria das vezes estar no seu limite máximo de desempenho, o que acaba gerando uma estabilização, muitas vezes influenciada pela fadiga, que é gerada pelo excesso de tempo do coletivo e pela oposição de menor qualidade sem exigência de competição.

Outro detalhe é a participação, que se reduz muito pela relação com o espaço de jogo, que neste caso tende a solicitar pouco do jogador.

ACUMULAÇÃO DE FADIGA DE JOGO(S):

Este é outro ponto chave, a acumulação de fadiga que acontece através da não total recuperação do jogo anterior, em conjunto com a realização deste coletivo, mesmo que este seja colocado num dia em que possivelmente tenha ocorrido a total recuperação geral do organismo dos jogadores (+ ou - dependendo da individualidade do atleta em termos de recuperação). Ou seja, até mesmo para quem respeita os 4 dias de recuperação para jogar um novo jogo, a utilização deste tipo de coletivo pode ser prejudicial pela necessidade de recuperação para o próximo jogo, que se feito por exemplo na quinta-feira, terá apenas sexta e sábado, para voltar a jogar domingo, isso em uma semana completa de treinos, sendo que por jogarem longos tempos continuamente, mesmo que em menor intensidade, a tendência é uma depleção energética muscular e hepática elevada, além de grande possibilidade de acumulo de micro-rupturas pela quantidade de tempo de solicitação, que irá influenciar o próximo treino em termos de qualidade e intensidade assim como o treino seguinte e provavelmente deixará resíduos elevados de fadiga para o próximo jogo.

O mais interessante é o ciclo que se passa a partir daí, pois demonstrando sinais de cansaço, inclusive precoce, o jogador que é avaliado em meio ao coletivo qualitativamente, ou por colocar para a comissão técnica o seu cansaço, é submetido depois a mais treinos físicos, para melhorar sua suposta condição física, sendo que na verdade o que lhe falta é exatamente descansos passivos, e mais treinos de recuperação talvez para poder voltar a seu estado de supercompensação digamos ou estado de exaltação para uma nova solicitação de qualidade.

Sendo que ainda estou sendo otimista na colocação do dito coletivo na quinta-feira, o pior é quando ele ocorre na sexta-feira, dia em que se está bem perto do próximo jogo, ou na terça-feira, dia em que se esta bem perto do último jogo, e nos dois casos a fadiga certamente estará se acumulando no organismo da equipe.

AS LESÕES:

O cansaço adquirido por este tipo de treino normalmente leva a lesões no final de diferentes gravidades, bem como frequentes discussões, brigas, e outros distúrbios causados, normalmente no fim do treino, pela baixa recuperação que acontece neste tipo de solicitação.

Minha experiência empírica me mostra que normalmente as lesões de treino ocorrem exatamente nos coletivos, e com grande tendência aos 15 minutos finais, exatamente pela mistura de fadiga e discussões, daí surgem muitas torções de tornozelo, tostões pelo timing errado de entrada no lance e até mesmo rupturas ligamentares.

BAIXA QUALIDADE E INTENSIDADE:

Neste tipo de treino, à qualidade tende a ser menor primeiro pelos confrontos, que muitas vezes são marcados por titulares x reservas (principalmente em equipes que buscam definir isso bem), o que proporciona aos titulares, que normalmente possuem maior qualidade, principalmente em clubes de baixa faixa aquisitiva, uma certa despreocupação, uma baixa intensidade até, que querendo ou não, ajuda a habituar o corpo a este tipo de esforço mais contínuo e de baixo nível competitivo (algumas equipes até o fazem sem o uso de caneleiras, com agressividade baixa, o que na competição oficial não ocorre), que se torna mais agravante por ser contínuo com maior dominância aeróbia, mais do que o jogo oficial, que terá que obrigatoriamente ser no máximo, e este máximo terá que ser em dominância anaerónia alática e até lática, por mais que em um contexto contínuo e consequentemente também aeróbio.

Portanto eu acredito que esta solicitação sub-máxima (sendo otimista) de longa duração não ajuda na manutenção da qualidade, mesmo que o treinador faça intervenções em alguns momentos, metabolicamente o treino tende a baixar demais o rendimento na parte final. Isso explica o motivo de algumas equipes levarem tantos gols neste momento do jogo.

Frente a estes detalhes, o coletivo que parece se for feito com estas intenções e e construção, tende à ser um pouco contra producente para a equipe, tanto "na hora" quanto "no acumulo" de fadiga que ajuda a elevar.

Portanto vou colocar uma situação diferente, em termos de coletivo. Vejamos:

Alguns objetivos:

-Criar situação de jogo em Coletivo 11x11;
-Treinar determinados princípios e assuntos tratados em menor complexidade na semana (antes), em situação mais complexa;
- Evitar a fadiga acumulada através das pausas;
- Manter a hidratação da equipe;
- Manter à qualidade através de orientações e ajustes nas pausas;

Luiz Esteves

A Ação do Treinador: dos Gritos à Descoberta Guiada

“Ser treinador de futebol não é nada fácil...”: essa frase muitas vezes remete à instabilidade do cargo, mas nesta coluna tal afirmação serve muito bem para ilustrar a complexidade da ação desse profissional dentro do processo de treino.
Em um processo de treino pautado na complexidade, a ação do treinador interfere diretamente na dinâmica de toda a atividade, modificando os objetivos e as ações dos jogadores dentro do treino.
No estudo de Rampinini e outros autores (Factors influencing physiological responses to small-sided soccer games), podemos observar como a intervenção do treinador modifica diretamente os parâmetros físicos das atividades.
Nesse estudo, os autores submetem os jogadores a jogos reduzidos com e sem a intervenção verbal dos treinadores. A frequência cardíaca, concentração de lactato sanguíneo e na percepção subjetiva de esforço foram mesurados e analisados em cada atividade.
Os dados mostram que quando há a intervenção ativa com estímulo verbal do treinador, há um incremento em todos os parâmetros observados; já quando não há a intervenção do treinador, esses dados sofrem uma queda significativa. Sendo assim, podemos concluir que a ação do treinador interfere diretamente no estímulo físico dentro dos jogos reduzidos.
Contudo, não basta incentivar verbalmente os jogadores para que eles corram mais, ou gritar se eles cometerem algum erro dentro da atividade: é preciso saber guiar todo o processo!
Guiar todo o processo significa orientar os jogadores para aquilo que se espera dentro do jogo. Na base, essa orientação vai além do jogo e se foca (pelo menos deveria) no desenvolvimento de jogadores inteligentes e como visão crítica sobre o jogo, e não simplesmente obedientes taticamente.
O treinador precisa traçar os objetivos e guiar os jogadores ao longo do caminho. Nesse âmbito, a dura ou a repreensão pode e deve ser utilizada em momentos pertinentes, pois formar muitas vezes requer esse tipo de intervenção (claro que com toda a ação pedagógica embutida).
Para José Mourinho, os jogadores precisam ser estimulados a discutir, questionar, experimentar. Tudo com a supervisão e orientação de toda a comissão, que não deve deixar que isso se torne em uma grande discussão, na qual qualquer raciocino é permitido.
A discussão precisa ter um norte, que evolui a cada treino e não deixa que os jogadores se acomodem em questões antigas. Nesse processo, denominado de “descoberta guiada” pelo treinador português, não há estagnação e as discussões evoluem a cada treino e a cada jogo.

Sabemos que cada atividade tem seu objetivo e nosso papel como professor em sua essência deve ser de levar os atletas a entender e avaliar a eficiência de suas ações jogo a jogo, treino a treino.
Em suma, precisamos guiar o processo e não trazer respostas prontas com conteúdo vazio de significado para os atletas.
Lembre-se que esse guiar passa pelos aspectos físicos, técnicos e mentais do jogo, e não apenas pela tática.

“Para mim liderar não é mandar, para mim liderar é guiar”
José Mourinho

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Atributos De Um Bom Treinador De Futebol



Experiência

Disciplina

Equilíbrio emocional

Capacidade de observação do conjunto

Conhecimentos técnicos e táticos

Organizar e coordenar os trabalhos da comissão técnica

Ser generalista e detalhista

Liderança e habilidade no relacionamento humano

Seriedade

Sensibilidade e facilidade de comunicação para transmitir as suas idéias

Motivação

Ser prático, intuitivo e científico

Ter paciência para ensinar.

A 'descoberta guiada' de José Mourinho

Lugar-comum entre pedagogos, conceito é aplicado de maneira diferenciada pelo treinador em suas equipes; companheiros de função, entretanto, ainda adotam preceitos arcaicos

De que forma se pode dotar um educador de ferramentas que efetivamente possibilitem a ele diagnosticar a situação do educando? Há algumas possíveis respostas a essa indagação. E todas apresentam a responsabilidade das duas frentes – mestre e aluno – no processo global.

Permitir ao educando o livre acesso às informações disponíveis, tal como ocorre com as pesquisas efetuadas na Internet, é uma alternativa. Dentro dos termos pedagógicos, tal mecanismo de ensino recebe o nome de “Exploração livre”, que possui funcionalidade direta na aquisição de princípios.

Os aprendizes normalmente sentem dificuldade de adquirir perícia a partir desse mecanismo, entretanto, muito por conta da implementação de um livre explorar, a interface deverá tornar-se passiva.

Nesse ambiente citado, sempre deve partir do educando a iniciativa de definir o que pesquisar e de interpretar se os exemplos fornecidos pela interface apresentam ou não um determinado conjunto de características. E reconhecer em um determinado exemplo o conjunto de características presentes é justamente a valência que o educando acabe por adquirir – pelo menos é o que se espera.

Apesar de a exploração livre ser adequada para a aquisição de princípios, por si só ela não dá garantias de que o educando efetivamente conseguirá adquirir o conhecimento almejado. E aí entra em cena o que se chama de descoberta guiada.

Por intermédio desse processo, quem tem o papel de ensinar, deverá ser capaz de identificar as características individuais de cada aprendiz: o nível atual de habilidade, as potencialidades e deficiências, com a capacidade de escolher e apresentar de forma adequada a ele os exemplos necessários para a compreensão dos conceitos em estudo.

É o educando quem determina em última instância, na descoberta guiada, se ele deseja pesquisar propriamente a base de dados disponibilizada pelo educador, ou acompanhar o desenrolar de uma atividade instrucional desenvolvida pelo educador. Em tal solução, o educador ora comporta-se de forma passiva, ora de forma ativa.

Ele é um método particularmente útil quando utilizado como preâmbulo ou complementação de um processo de exercitação das habilidades e/ou conteúdos adquiridos e procura manter sempre um equilíbrio entre dirigir a exploração ou permitir que ela ocorra livremente – simultaneamente, trabalha-se o estado do educando e a complexidade do assunto a ensinar.

A descoberta guiada é um método pedagógico comumente utilizado para reforçar e generalizar as habilidades e conteúdos assimilados pelo aprendiz. Mas tal lição, no futebol, restringe-se a uma minoria. E o destaque vai para José Mourinho, treinador da Inter de Milão.

No livro “Um ciclo de vitórias”, o português comenta como a convivência com os jogadores do Barcelona, time no qual trabalhou durante um período de sua carreira, despertou nele a necessidade de repensar sua forma de conduzir um treino.

“Jogadores com este nível não aceita o que lhes é dito apenas pela autoridade de quem o diz. É preciso provar-lhes que estamos certos. A velha história do mister ter sempre razão não é aqui aplicável. (...) O trabalho tático que promovo não é um trabalho em que de um lado está o emissor e do outro o receptor. Eu chamo-lhe a descoberta guiada, ou seja, eles descobrem segundo as minhas pistas. Construo situações de treino para os levar por um determinado caminho. Eles começam a sentir isso, falamos, discutimos e chegamos a conclusões. Mas para tal, é preciso que os futebolistas que treinamos tenham opiniões próprias. Muitas vezes parava o treino e perguntava-lhes o que eles sentiam em determinado momento. Respondiam-me, por exemplo, que sentiam o defesa direito muito longe do defesa central. Ok, vamos então aproximar os dois defesas e ver como funciona. E experimentávamos, uma, duas, três vezes, até lhes voltar a perguntar como se sentiam. Era assim até todos, em conjunto, chegarmos a uma conclusão. É a esta metodologia que chamo a descoberta guiada”, relata Mourinho.

Na avaliação de Alcides Scaglia, bacharel em Ciência do Esporte, licenciado em Educação Física, Mestre em Pedagogia do Esporte e Doutor em Pedagogia do Movimento e que desenvolve estudos na área da Pedagogia do Esporte e Educação Física escolar, a “aula” sobre princípios pedagógicos, para os pedagogos que se opõem à abordagem tradicional, já é vista como lugar-comum. A questão relevante, sim, é de seu vínculo ao mundo do futebol.

“Todos os novos professores que atuam nas escolas já dominam e aplicam estas estratégias metodológicas em suas aulas. Mas, a imensa maioria dos treinadores de futebol, professores e formadores de jovens futebolistas, não renovaram seus conhecimentos pedagógicos, ou seja, ainda seguem ingenuamente os preceitos da abordagem tradicional”, avalia.

Graduado em Educação Física (Ciências do Treinamento Desportivo) pela Faculdade de Educação Física da Unicamp, em 2001; mestre em Ciências do Desporto pela UNICAMP, em 2004; doutorando em Ciências do Desporto também pela Unicamp (desde 2005), Rodrigo Leitão, que é especialista em Bioquímica e Fisiologia no Exercício e buscou desvendar em sua tese de Mestrado as variáveis técnico-táticas determinantes e predominantes do jogo de Futebol, também enaltece o procedimento de Mourinho e o trabalho integrado e conjunto na comissão técnica.

“Independentemente do nome que se dá, importante é entender o conceito que aí está embutido. O fato, que por motivos inerentes à “cultura futebolística”, em geral, a construção de táticas, estratégias e etc. e tal, é algo unilateral, que parte de treinadores e comissões técnicas em direção aos jogadores e ponto”, aponta.

“Para muitas pessoas que ‘sobrevivem’ do futebol, algo do tipo ‘construir em conjunto’ é tido ou como fraqueza do treinador ou como a chance clara para que se perca a liderança sobre o grupo. É justamente o contrário”, completa Leitão.

Os jogadores vão descobrindo situações novas a partir de pistas. Para que isso ocorra, Mourinho constroi situações de treino que os levem por um determinado caminho. E começa-se a sentir isso, por intermédio de falas, discussões, até se concluir algo.
“Muitas vezes, paro o treino e pergunto-lhes o que estão a sentir. Respondem, por exemplo, que sentem o defesa direito muito longe do defesa central. ‘Está bem, vamos aproximar os dois defesas e ver como funciona’. E experimentamos uma, duas, três vezes, até lhes voltar a perguntar como se sentem. É assim, até todos, em conjunto, chegarmos a uma conclusão”, relata Mourinho, em mais uma passagem de sua obra.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A Metodologia de Trabalho de José Mourinho

Tentando 'desvendar' as virtudes do técnico português

Desculpem-me aqueles que ainda não entendem a importância do trabalho transformador do mestre Mourinho, mas estou imbuído em desvendar as virtudes desse português, independente dos conservadores e ultra-conservadores que, infelizmente, têm vez, voz e voto no cenário atual de nosso futebol.

Nesta crônica quero iniciar uma discussão mais específica, revelando aspectos peculiares da filosofia de Mourinho, as quais coadunam na concretização de sua metodologia de trabalho.

Para isto poderia iniciar parafraseando as idéias do ex-treinador do Chelsea, mas escolho citar literalmente a sua fala, para que meus comentários posteriores possam ser os mais fidedignos possíveis.

Desse modo, destaco a lição pedagógica descrita no início do livro “Um ciclo de vitórias”, quando Mourinho comenta como à convivência com os jogadores do Barcelona despertou nele a necessidade de repensar sua forma de conduzir um treino, possibilitando assim a construção de um dos aspectos de sua metodologia, batizada de “descoberta guiada”.

O treinador explica: “Jogadores com este nível não aceita o que lhes é dito apenas pela autoridade de quem o diz. É preciso provar-lhes que estamos certos. A velha história do mister ter sempre razão não é aqui aplicável. (...) O trabalho tático que promovo não é um trabalho em que de um lado está o emissor e do outro o receptor. Eu chamo-lhe a descoberta guiada, ou seja, eles descobrem segundo as minhas pistas. Construo situações de treino para os levar por um determinado caminho. Eles começam a sentir isso, falamos, discutimos e chegamos a conclusões. Mas para tal, é preciso que os futebolistas que treinamos tenham opiniões próprias. Muitas vezes parava o treino e perguntava-lhes o que eles sentiam em determinado momento. Respondiam-me, por exemplo, que sentiam o defesa direito muito longe do defesa central. Ok, vamos então aproximar os dois defesas e ver como funciona. E experimentávamos, uma, duas, três vezes, até lhes voltar a perguntar como se sentiam. Era assim até todos, em conjunto, chegarmos a uma conclusão. É a esta metodologia que chamo a descoberta guiada.”

Antes de continuar preciso salientar que apesar de dizer que Mourinho nos dá uma aula sobre princípios pedagógicos, estou me dirigindo ao mundo do futebol, pois para os pedagogos (que se opõem à abordagem tradicional) isto já é lugar-comum, ou seja, todos os novos professores que atuam nas escolas já dominam e aplicam estas estratégias metodológicas em suas aulas.

Mas, a imensa maioria dos treinadores de futebol, professores e formadores de jovens futebolistas, não renovaram seus conhecimentos pedagógicos, ou seja, ainda seguem ingenuamente os preceitos da abordagem tradicional.

Qualifico-os como ingênuos, devido ao fato dos mesmos não terem consciência da existência de qualquer princípio pedagógico em seus treinos. Treinador é treinador, treina, não ensina. Treinador adestra movimentos, impõem de forma autoritária suas verdades, tratam os jogadores como objetos manipuláveis para suas conquistas pessoais.

Todas estas características os qualificam e os agrupam juntos aos seguidores da abordagem tradicional de ensino e, ao mesmo tempo, propagadores da metodologia de ensino tecnicista. Alegóricos esses tão combatidos por inúmeros pensadores da pedagogia contemporânea, como, por exemplo, os mestres Paulo Freire e Celestian Freinet, além dos estudiosos da psicologia da aprendizagem, dos quais destaco rapidamente os maiores, Jean Piaget, Lev Vigostski e Henry Wallon.

Sendo assim, vejo o português José Mourinho como um pedagogo treinador, que apresenta, pelo menos nestes aspectos descritos, conhecimentos atualizados em relação à pedagogia e, concomitantemente, à pedagogia do esporte.

O professor/treinador demonstra ter uma grande preocupação em respeitar o conhecimento que os jogadores possuem, pois os trata como seres humanos. Pessoas pensantes, que não só têm, como devem adquirir opinião crítica própria, para o bom desenvolvimento do processo metodológico.

Além do fato de que abrir espaço para os jogadores questionarem a estruturação tática da equipe em hipótese alguma tira do treinador sua autoridade, pelo contrário, reforça-a.

Ele é sabedor da máxima pedagógica de que mandar e o aluno fazer não caracteriza ensino, muito menos significa que o educando aprendeu o que ele fez. Um dos mais respeitados teóricos da aprendizagem, o suíço Jean Piaget, em seu livro Fazer e compreender deixa claro que fazer não significa compreender. Fazer se encontra no nível da ação, gerando apenas uma competência para sua reprodução e afirmação. Compreender está para a conceituação, ou seja, quem compreende sabe explicar o porquê da ação, e se é dominante desse conceito, potencializa sua capacidade de readaptá-lo às novas exigências e não apenas sua reprodução alienada.

A preocupação de Mourinho está em construir conhecimento, fazer com que os jogadores compreendam como ele está analisando taticamente a equipe, contudo, em meio ao desenrolar do processo, está preparado para mudar a sua forma de pensar. Em decorrência da opinião emitida pelos jogadores pode ser que tudo mude, e a descoberta guiada seja também sua, confirmando as sábias e experientes palavras do nosso professor Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia: “É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção (...) Logo, nem formar é ação pela qual um sujeito criador [treinador] dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado.”

Desse modo, sintetizando, o princípio metodológico de Mourinho, descrito como descoberta guiada, resume-se na criação de um ambiente facilitador de aprendizagem significativa. O ex-treinador do Chelsea e do Porto instiga seus jogadores a superar desafios, criando situações problemas que engendrem a necessidade de um tateio experimental que proporcione a tríade ação-reflexão-ação, dando voz aos atores do processo por meio de tempos técnicos, onde os jogadores têm liberdade para pensar e interagir, fazendo com que se sintam sujeitos da metodologia e participantes ativos no desenvolvimento da preparação da equipe.

Se todos são co-autores, logo conhecedores do esquema, o mesmo passa a ser auto-regulado/organizado pelos próprios jogadores no campo, abrindo espaço para que o treinador possa pensar em outras estratégias para surpreender o adversário.
Sendo assim, extingui-se a necessidade do técnico ficar berrando na beira do gramado frases como esta: “agora cruza”; “passa”; “vira o jogo”; “chuta”..., com um intuito explícito de tentar fazer com que os jogadores joguem a seu modo, e um outro implícito, preocupando-se em mostrar aos outros que agindo de tal modo está aparentemente trabalhando.

Entretanto, não sou ingênuo, pelo contrário sou provocador, pois finalizo esta crônica tendo consciência de que tudo o que foi exposto e discutido, para aqueles que ainda, consciente ou inconscientemente, norteiam-se na abordagem tradicional (reproduzindo uma metodologia tecnicista), não passa de perfumaria, adereços, detalhes de menor importância que efetivamente não ganham jogos, Assim não conseguem enxergar os princípios pedagógicos como decisivos diferenciais, e que ensinar e aprender dependem apenas da entonação de ordem bem dada.

Portanto, estão longe de entender os porquês de tantas vitórias de José Mourinho, e, ao mesmo tempo, conseguir fazer conexões e reflexões úteis à sua vida profissional a partir do que nosso mais renomado e reconhecido pedagogo Paulo Freire, quer dizer neste excerto: “Somos os únicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os únicos em quem aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e a aventura, e, muito menos, sem uma metodologia consistente, consciente e coerente”.
Site.( www.univesrsidadedofutebol.com.br )