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Angelo Alves- Graduado em Ed.Física UCSal; Pós-Graduado em Fisiologia do Exercício; Times que Trabalhei: Vitoria BA, Miami FC, FC Moscow, Krilia Sovetov (Russia ).Estágio CSKA da Russia.

domingo, 20 de novembro de 2011

O Coletivo

Existe aqui no Brasil uma tendência ao "coletivo", que é para muitos o mais especifico dos treinos, pois é o que retrata melhor o jogo. De fato, em algumas metodologias isso é verdade, como por exemplo, na metodologia convencional.
Em treinos integrados o coletivo deixa de ser tão "especifico" quanto é para o treino convencional, pois neste existem treinos em espaço reduzido que promovem junto com a especificidade técnica e tática (quando solicitada no exercício, porém normalmente esta dimensão, nesta metodologia e neste tipo de exercício não é levada em conta, sendo a separação das equipes normalmente feita de forma grupal, sem preocupações setoriais ou intersetoriais).

Algumas características do coletivo convencional:

- 11 contra 11;- Tempos longos retratando o tempo real de jogo (2x35, 2x40, 2x45 - 1x45, 1x50, 1x60 minutos);
- Regra normal de jogo, tanto em bola rolando quanto em bola parada;
- Espaço de campo total;
- Número de toques na bola liberado;
- Titulares x Reservas;

Estes são alguns pontos mais valorizados nos coletivos clássicos. Estes traços são de fato o retrato do "jogo oficial", pois o coletivo tem essa idéia mesmo, jogar como se irá jogar no jogo, e os jogadores pelo menos nas culturas que tive contato têm uma grande necessidade de realizar estes coletivos semanalmente. É como se fosse um teste semanal para eles, uma avaliação para sentir o seu modo atual de jogo, seu rendimento, e para o treinador o coletivo convencional passa a ser um tipo de feedback da equipe na semana.

O problema no caso do coletivo abordado acima esta relacionado a algumas consequências que surgem neste tipo de treino, e estão situados nas seguintes variáveis:

- Propensão a algo;
- Acumulação de fadiga de jogo;
- Baixa qualidade;
- Baixa Intensidade;

PROPENSÃO A ALGO:

Metodologicamente o princípio das propensões nos possibilita contextualizar o exercício para solicitar o aparecimento de determinadas coisas mais do que outras, ou seja, estar mais propício a algo. O jogo, em geral é de fato uma forma de avaliação qualitativa e até quantitativa sobre o aparecimento destas coisas, que através da propensão levamos aos treinos e treinamos.

Portanto existe uma lógica em fazer coletivos para tentar perceber se esta ou não acontecendo estes comportamentos idealizados pelo treinador. O problema é que o coletivo tradicional pelo seu tempo de duração, pelos seus confrontos em níveis muito desiguais, e pela contextualização não idêntica à competição (pois o lado emocional, a torcida, o stress não estão tão presentes) acabam sendo um pouco "enganadores".

Enganam, pois dentro da exigência baseada nestes elementos o jogador consegue sucesso sem a necessidade de na maioria das vezes estar no seu limite máximo de desempenho, o que acaba gerando uma estabilização, muitas vezes influenciada pela fadiga, que é gerada pelo excesso de tempo do coletivo e pela oposição de menor qualidade sem exigência de competição.

Outro detalhe é a participação, que se reduz muito pela relação com o espaço de jogo, que neste caso tende a solicitar pouco do jogador.

ACUMULAÇÃO DE FADIGA DE JOGO(S):

Este é outro ponto chave, a acumulação de fadiga que acontece através da não total recuperação do jogo anterior, em conjunto com a realização deste coletivo, mesmo que este seja colocado num dia em que possivelmente tenha ocorrido a total recuperação geral do organismo dos jogadores (+ ou - dependendo da individualidade do atleta em termos de recuperação). Ou seja, até mesmo para quem respeita os 4 dias de recuperação para jogar um novo jogo, a utilização deste tipo de coletivo pode ser prejudicial pela necessidade de recuperação para o próximo jogo, que se feito por exemplo na quinta-feira, terá apenas sexta e sábado, para voltar a jogar domingo, isso em uma semana completa de treinos, sendo que por jogarem longos tempos continuamente, mesmo que em menor intensidade, a tendência é uma depleção energética muscular e hepática elevada, além de grande possibilidade de acumulo de micro-rupturas pela quantidade de tempo de solicitação, que irá influenciar o próximo treino em termos de qualidade e intensidade assim como o treino seguinte e provavelmente deixará resíduos elevados de fadiga para o próximo jogo.

O mais interessante é o ciclo que se passa a partir daí, pois demonstrando sinais de cansaço, inclusive precoce, o jogador que é avaliado em meio ao coletivo qualitativamente, ou por colocar para a comissão técnica o seu cansaço, é submetido depois a mais treinos físicos, para melhorar sua suposta condição física, sendo que na verdade o que lhe falta é exatamente descansos passivos, e mais treinos de recuperação talvez para poder voltar a seu estado de supercompensação digamos ou estado de exaltação para uma nova solicitação de qualidade.

Sendo que ainda estou sendo otimista na colocação do dito coletivo na quinta-feira, o pior é quando ele ocorre na sexta-feira, dia em que se está bem perto do próximo jogo, ou na terça-feira, dia em que se esta bem perto do último jogo, e nos dois casos a fadiga certamente estará se acumulando no organismo da equipe.

AS LESÕES:

O cansaço adquirido por este tipo de treino normalmente leva a lesões no final de diferentes gravidades, bem como frequentes discussões, brigas, e outros distúrbios causados, normalmente no fim do treino, pela baixa recuperação que acontece neste tipo de solicitação.

Minha experiência empírica me mostra que normalmente as lesões de treino ocorrem exatamente nos coletivos, e com grande tendência aos 15 minutos finais, exatamente pela mistura de fadiga e discussões, daí surgem muitas torções de tornozelo, tostões pelo timing errado de entrada no lance e até mesmo rupturas ligamentares.

BAIXA QUALIDADE E INTENSIDADE:

Neste tipo de treino, à qualidade tende a ser menor primeiro pelos confrontos, que muitas vezes são marcados por titulares x reservas (principalmente em equipes que buscam definir isso bem), o que proporciona aos titulares, que normalmente possuem maior qualidade, principalmente em clubes de baixa faixa aquisitiva, uma certa despreocupação, uma baixa intensidade até, que querendo ou não, ajuda a habituar o corpo a este tipo de esforço mais contínuo e de baixo nível competitivo (algumas equipes até o fazem sem o uso de caneleiras, com agressividade baixa, o que na competição oficial não ocorre), que se torna mais agravante por ser contínuo com maior dominância aeróbia, mais do que o jogo oficial, que terá que obrigatoriamente ser no máximo, e este máximo terá que ser em dominância anaerónia alática e até lática, por mais que em um contexto contínuo e consequentemente também aeróbio.

Portanto eu acredito que esta solicitação sub-máxima (sendo otimista) de longa duração não ajuda na manutenção da qualidade, mesmo que o treinador faça intervenções em alguns momentos, metabolicamente o treino tende a baixar demais o rendimento na parte final. Isso explica o motivo de algumas equipes levarem tantos gols neste momento do jogo.

Frente a estes detalhes, o coletivo que parece se for feito com estas intenções e e construção, tende à ser um pouco contra producente para a equipe, tanto "na hora" quanto "no acumulo" de fadiga que ajuda a elevar.

Portanto vou colocar uma situação diferente, em termos de coletivo. Vejamos:

Alguns objetivos:

-Criar situação de jogo em Coletivo 11x11;
-Treinar determinados princípios e assuntos tratados em menor complexidade na semana (antes), em situação mais complexa;
- Evitar a fadiga acumulada através das pausas;
- Manter a hidratação da equipe;
- Manter à qualidade através de orientações e ajustes nas pausas;

Luiz Esteves

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