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Angelo Alves- Graduado em Ed.Física UCSal; Pós-Graduado em Fisiologia do Exercício; Times que Trabalhei: Vitoria BA, Miami FC, FC Moscow, Krilia Sovetov (Russia ).Estágio CSKA da Russia.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A 'descoberta guiada' de José Mourinho

Lugar-comum entre pedagogos, conceito é aplicado de maneira diferenciada pelo treinador em suas equipes; companheiros de função, entretanto, ainda adotam preceitos arcaicos

De que forma se pode dotar um educador de ferramentas que efetivamente possibilitem a ele diagnosticar a situação do educando? Há algumas possíveis respostas a essa indagação. E todas apresentam a responsabilidade das duas frentes – mestre e aluno – no processo global.

Permitir ao educando o livre acesso às informações disponíveis, tal como ocorre com as pesquisas efetuadas na Internet, é uma alternativa. Dentro dos termos pedagógicos, tal mecanismo de ensino recebe o nome de “Exploração livre”, que possui funcionalidade direta na aquisição de princípios.

Os aprendizes normalmente sentem dificuldade de adquirir perícia a partir desse mecanismo, entretanto, muito por conta da implementação de um livre explorar, a interface deverá tornar-se passiva.

Nesse ambiente citado, sempre deve partir do educando a iniciativa de definir o que pesquisar e de interpretar se os exemplos fornecidos pela interface apresentam ou não um determinado conjunto de características. E reconhecer em um determinado exemplo o conjunto de características presentes é justamente a valência que o educando acabe por adquirir – pelo menos é o que se espera.

Apesar de a exploração livre ser adequada para a aquisição de princípios, por si só ela não dá garantias de que o educando efetivamente conseguirá adquirir o conhecimento almejado. E aí entra em cena o que se chama de descoberta guiada.

Por intermédio desse processo, quem tem o papel de ensinar, deverá ser capaz de identificar as características individuais de cada aprendiz: o nível atual de habilidade, as potencialidades e deficiências, com a capacidade de escolher e apresentar de forma adequada a ele os exemplos necessários para a compreensão dos conceitos em estudo.

É o educando quem determina em última instância, na descoberta guiada, se ele deseja pesquisar propriamente a base de dados disponibilizada pelo educador, ou acompanhar o desenrolar de uma atividade instrucional desenvolvida pelo educador. Em tal solução, o educador ora comporta-se de forma passiva, ora de forma ativa.

Ele é um método particularmente útil quando utilizado como preâmbulo ou complementação de um processo de exercitação das habilidades e/ou conteúdos adquiridos e procura manter sempre um equilíbrio entre dirigir a exploração ou permitir que ela ocorra livremente – simultaneamente, trabalha-se o estado do educando e a complexidade do assunto a ensinar.

A descoberta guiada é um método pedagógico comumente utilizado para reforçar e generalizar as habilidades e conteúdos assimilados pelo aprendiz. Mas tal lição, no futebol, restringe-se a uma minoria. E o destaque vai para José Mourinho, treinador da Inter de Milão.

No livro “Um ciclo de vitórias”, o português comenta como a convivência com os jogadores do Barcelona, time no qual trabalhou durante um período de sua carreira, despertou nele a necessidade de repensar sua forma de conduzir um treino.

“Jogadores com este nível não aceita o que lhes é dito apenas pela autoridade de quem o diz. É preciso provar-lhes que estamos certos. A velha história do mister ter sempre razão não é aqui aplicável. (...) O trabalho tático que promovo não é um trabalho em que de um lado está o emissor e do outro o receptor. Eu chamo-lhe a descoberta guiada, ou seja, eles descobrem segundo as minhas pistas. Construo situações de treino para os levar por um determinado caminho. Eles começam a sentir isso, falamos, discutimos e chegamos a conclusões. Mas para tal, é preciso que os futebolistas que treinamos tenham opiniões próprias. Muitas vezes parava o treino e perguntava-lhes o que eles sentiam em determinado momento. Respondiam-me, por exemplo, que sentiam o defesa direito muito longe do defesa central. Ok, vamos então aproximar os dois defesas e ver como funciona. E experimentávamos, uma, duas, três vezes, até lhes voltar a perguntar como se sentiam. Era assim até todos, em conjunto, chegarmos a uma conclusão. É a esta metodologia que chamo a descoberta guiada”, relata Mourinho.

Na avaliação de Alcides Scaglia, bacharel em Ciência do Esporte, licenciado em Educação Física, Mestre em Pedagogia do Esporte e Doutor em Pedagogia do Movimento e que desenvolve estudos na área da Pedagogia do Esporte e Educação Física escolar, a “aula” sobre princípios pedagógicos, para os pedagogos que se opõem à abordagem tradicional, já é vista como lugar-comum. A questão relevante, sim, é de seu vínculo ao mundo do futebol.

“Todos os novos professores que atuam nas escolas já dominam e aplicam estas estratégias metodológicas em suas aulas. Mas, a imensa maioria dos treinadores de futebol, professores e formadores de jovens futebolistas, não renovaram seus conhecimentos pedagógicos, ou seja, ainda seguem ingenuamente os preceitos da abordagem tradicional”, avalia.

Graduado em Educação Física (Ciências do Treinamento Desportivo) pela Faculdade de Educação Física da Unicamp, em 2001; mestre em Ciências do Desporto pela UNICAMP, em 2004; doutorando em Ciências do Desporto também pela Unicamp (desde 2005), Rodrigo Leitão, que é especialista em Bioquímica e Fisiologia no Exercício e buscou desvendar em sua tese de Mestrado as variáveis técnico-táticas determinantes e predominantes do jogo de Futebol, também enaltece o procedimento de Mourinho e o trabalho integrado e conjunto na comissão técnica.

“Independentemente do nome que se dá, importante é entender o conceito que aí está embutido. O fato, que por motivos inerentes à “cultura futebolística”, em geral, a construção de táticas, estratégias e etc. e tal, é algo unilateral, que parte de treinadores e comissões técnicas em direção aos jogadores e ponto”, aponta.

“Para muitas pessoas que ‘sobrevivem’ do futebol, algo do tipo ‘construir em conjunto’ é tido ou como fraqueza do treinador ou como a chance clara para que se perca a liderança sobre o grupo. É justamente o contrário”, completa Leitão.

Os jogadores vão descobrindo situações novas a partir de pistas. Para que isso ocorra, Mourinho constroi situações de treino que os levem por um determinado caminho. E começa-se a sentir isso, por intermédio de falas, discussões, até se concluir algo.
“Muitas vezes, paro o treino e pergunto-lhes o que estão a sentir. Respondem, por exemplo, que sentem o defesa direito muito longe do defesa central. ‘Está bem, vamos aproximar os dois defesas e ver como funciona’. E experimentamos uma, duas, três vezes, até lhes voltar a perguntar como se sentem. É assim, até todos, em conjunto, chegarmos a uma conclusão”, relata Mourinho, em mais uma passagem de sua obra.

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